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Brasileira morta na guerra da Ucrânia era modelo e atiradora de elite

O ataque russo também matou o ex-militar do Exército brasileiro Douglas Búrigo, 40. Segundo relatos de combatentes, Douglas retornou a um bunker para resgatar Thalita, única integrante da tropa que ficou para trás após o primeiro bombardeio.

Já são três casos de brasileiros mortos na guerra da Ucrânia -André Hack morreu em um combate na madrugada de 5 de junho.

A experiência estava sendo registrada em livro redigido por Thalita em parceria com um escritor, diz a família.

Lá, recebeu treinamento para se tornar atiradora de elite e integrar um grupo conhecido como “peshmerga”, expressão usada pelos curdos para se referir aos combatentes de seu exército, segundo a família.

Ela chegou a registrar imagens em vídeo nos locais de conflito na região, onde há menções ao termo curdo.

“A gente está na rota, na estrada, indo para o front”, descreveu em vídeo em território iraquiano registrado em setembro de 2019, enquanto filmava a região no carona de um veículo. Já no local, disse:

“Gente, aqui é o front. Para lá é onde ocorre a batalha”. Em seguida, apareceu fardada na região.

“Ela recebeu treinamento e fez os cursos necessários para ir para a linha de frente. Mas, ao entrar no exército curdo, se especializou em tiros de precisão, com armas longas. A Thalita era do exército feminino e integrava uma linha de frente com atiradoras de elite. Era uma heroína, e a vocação dela era salvar vidas, correndo atrás de missões humanitárias”, diz Théo Rodrigo Vieira, irmão de Thalita.
Segundo Théo, a especialidade da irmã era atuar como socorrista.

Embora saiba que a irmã precisava usar armas no conflito, Théo a define como uma “progressista genuína defensora da paz”.

“Ela pegava em armas apenas porque era um contexto de guerra”, explica.

Há ainda uma série de vídeos onde Thalita aparece com uniforme militar na zona de conflito. A combatente estava na Ucrânia há apenas três semanas, segundo relatos da família.

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Após informar à família que estava na capital Kiev, a região foi alvo de bombardeios. Thalita só voltou a falar com os parentes 48 horas depois dos ataques.

“Quando a gente conversava por telefone, eu queria saber tudo. Mas ela dizia que não podia falar muito, porque as atividades por celular estavam sendo monitoradas por drones russos. Ela ligava só para avisar que estava bem”, explica Théo.

Natural de Ribeirão Preto (SP), Thalita se mudou com a família desde a infância para a capital paulista, onde morou até se alistar junto às tropas ucranianas.

Em São Paulo, foi protagonista de peças teatrais durante a infância. Aos 18, também passou a trabalhar como modelo fotográfica.

Thalita atuava ainda em parceria com ONGs para defender os direitos dos animais -integrava um grupo que luta em defesa dos pitbulls.

“A exposição sensacionalista dissemina medo, desinformação e preconceitos, condenando-os à marginalização e penalizando socialmente bons criadores”, diz um trecho de um comunicado escrito em conjunto pelos membros do movimento.

Thalita participou de resgates de animais no Brasil nos últimos anos. Esteve em uma equipe de socorristas após o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), que matou 19 pessoas em novembro de 2015.

Também esteve em ações de buscas na tragédia de Brumadinho (MG), que deixou 270 mortos em janeiro de 2019.

As ações de resgate foram registradas em fotos no seu perfil profissional no LinkedIn.

Lá, a estudante de Direito se identificava como integrante da comissão dos Direitos dos Imigrantes e Refugiados da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo).

“Ajuda humanitária em áreas de conflito pelo mundo. Atuação em áreas remotas e de escombros”, descreve em seu perfil.

Procurado pelo UOL, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) não se manifestou sobre o relato das mortes de Douglas e Thalita até a publicação desta reportagem -o órgão levou quatro dias para confirmar a morte de André.

Já a família de Douglas disse ter sido procurada pela embaixada brasileira na Ucrânia. A informação foi confirmada ontem pelo tenente Sandro Carvalho da Silva, brasileiro que comanda o pelotão.

Ele disse que estava no local com Douglas, Thalita e outro combatente quando começou uma série de ataques com morteiros e disparos de drone com munição incendiária.

“Em um desses intervalos [dos ataques em série], saímos do bunker e corremos. Mas, por causa do fogo, a Thalita não saiu. O Douglas voltou para ajudar e não conseguiu sair mais”, relatou ao UOL.

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